sexta-feira, 10 de julho de 2009

TIC_TAC


Lia o texto com tédio. Não contava mais tempo, contava páginas. Quantas ainda faltavam para o final. Tudo era uma maldita obrigação. Naquele mar de palavras, poucas faziam sentido naqueles dias. Tudo aborrecia.Empanturrava de doces os pensamentos (há) muito amargos. Preenchia o estômago, não preenchia a alma.“Estou engordando”.Tecia um esboço do que lera. Resumos de livros técnicos. Preparava-se para um exame que nunca chegava. Detestava esperar, e, no entanto era só o que fazia.“Que maçante!”...Contava os níqueis... Precisava de um café, e não tinha nada parecido com isso na despensa. Aliás, pouco tinha na despensa.Nada na televisão. Ficaria contente em assistir qualquer coisa sobre animais. Sobre macacos, quem sabe. Mas isso é coisa de tv a cabo. E isso ela não tem.Na verdade, televisão também não era lá algo que muito agradava. Mas dava ilusão de movimento e barulho naquela casa vazia.Alguns filmes enlatados. Um programa de vendas de jóias em um canal religioso. Telas com relógio e listras verticais nas cores do arco-íris.Liga o som, mas não quer incomodar os vizinhos. Ouve baixo o Pink Floyd de um Roger Waters que gritava...Pegou o livro do Nietzsche. Aquele que teve que abandonar por causa dos outros estudos... Não poderia haver nada mais aconchegante naquela noite vazia.
(novembro de 2008)

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